Agricultura familiar e pesquisa: o que o agronegócio quer para os próximos anos

Agricultura familiar e pesquisa: o que o agronegócio quer para os próximos anos

Responsável por 25% do PIB brasileiro, o agronegócio deve crescer 2,8% neste ano, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Para os próximos anos, as previsões são igualmente favoráveis. Mas, para que o setor possa dar saltos de crescimento mais ambiciosos, é preciso fazer mais. Especialistas e entidades têm se reunido nos últimos meses para debater o futuro do agro, com foco nos próximos quatro anos. “O país precisa implementar diversas políticas públicas para pavimentar o caminho de um crescimento maior e mais sustentável do setor, seja qual for o próximo governante eleito”, diz o agrônomo Pedro Abel Vieira, da Embrapa.

Vieira tem mantido reuniões com pesquisadores da Universidade de São Paulo e de outros institutos de ensino para discutir o tema. Já há uma série de propostas que se tornaram consenso. “Não há dúvida de que precisamos tratar com seriedade a questão do desmatamento, por exemplo, com um diagnóstico completo sobre o problema e um conjunto de ações muito bem pensadas, levando emc conta as especificidades da população local”, afirma. “Outro tópico é o desenvolvimento de agricultura familiar”.

O desenvolvimento de uma agricultura sustentável em biomas como o cerrado, por meio de pesquisas de novos cultivares e do incentivo ao pequeno agricultor, também faz parte do conjunto de sugestões. “Precisamos resgatar políticas de apoio ao pequeno produtor, que soma 4 milhões de pessoas no Brasil”, diz Eduardo Delgado Assad, pesquisador da Unicamp e professor da FGV Agro, centro de estudos de agronegócio da Fundação Getúlio Vargas.

Os especialistas defendem a ampliação de programas de assistência técnica aos pequenos produtores e de outros esforços no sentido de elevar o nível educacional dos agricultores. “Muitos não completaram o ensino fundamental”, afirma Assad. “Também é preciso investir mais em saneamento básico na zona rural e prover condições para que o pequeno agricultor possa aumentar a produção e renda.”

Novas tecnologias no agro
Estimular o desenvolvimento de novas tecnologias é outra iniciativa primordial, na visão de pesquisadores e representantes de entidades do agro. “O país fez uma revolução verde há algumas décadas, quando deixou de ser um importador de alimentos para se tornar um grande produtor e exportador, o que foi conquistado em grande parte com investimentos em pesquisa”, diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Agora, precisamos aumentar os investimentos em tecnologia para agricultura tropical e nossa capacidade de inovação.”

Esse movimento passa também pelas startups do agro, que vêm apresentando soluções em tecnologias como robótica, inteligência artificial e sensores. As inovações permitem avanços no monitoramento da saúde das plantas, detecção de pragas e previsões do tempo mais acertadas, fundamentais para o planejamento do plantio e da colheita.

No ano passado, as agritechs brasileiras, como são chamadas as startups do agro, captaram cerca de 126 milhões de dólares de investimento, quase o dobro de 2020, segundo o Distrito, um dos maiores hubs de inovação no país. Mesmo assim, há um longo caminho a ser percorrido. Em mercados mais maduros, como nos Estados Unidos, os investimentos em agritechs somaram 5 bilhões de dólares em 2021.

“Também precisamos avançar em relação a aspectos importantes como a proteção contra risco”, diz Leandro Fonseca, professor de agronegócio do Insper. “O governo poderia se debruçar sobre iniciativas para aumentar o acesso ao seguro rural.”

Seguro rural
Neste aspecto, os recursos direcionados ao programa de subvenção do seguro rural, que atingiram 990 milhões de reais, se esgotaram em setembro. Para o ano que vem, a verba estimada é de 1 bilhão de reais, metade do valor solicitado pelo Ministério da Agricultura. A Embrapa deverá contar com um orçamento de 3,4 bilhões de reais, pouco mais do que os 3,3 bilhões de reais deste ano – a verba destinada à pesquisa e inovação, no entanto, deverá diminuir, passando de 191,8 milhões de reais, valor aplicado neste ano, para 156,2 milhões de reais, de acordo com disposições do Projeto de Lei Orçamentária Anual.

“Não podemos esquecer que em um contexto complexo, com mudanças climáticas que afetam diretamente o agro, pesquisas sobre cultivares mais resistentes são essenciais para o crescimento sustentável da agricultura”, diz Vieira. “Temos uma riqueza enorme em nossos biomas, como na caatinga, com plantas já adaptadas a condições climáticas desafiadoras. Precisamos estudar esse arsenal e transformá-lo em conhecimento.”

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Fonte: Por Carla Aranha – Exame